terça-feira, 3 de junho de 2008

TIPOLOGIA TEXTUAL: GÊNEROS ESCRITOS NA SALA DE AULA

De antemão é importante colocar que não existe uma tipologia única, sistemática e explícita; ao contrário, nos diferentes trabalhos referentes ao tema, podemos encontrar uma diversidade de classificações que levam em conta diferentes critérios: funções da linguagem, intencionalidade do emissor, prosa de base, traços lingüísticos ou estruturais, efeitos pragmáticos, variedades da linguagem, recursos estilísticos e retóricos, etc. (Bernardez, 1987).
Em geral, a necessidade de estabelecer tipologias claras e concisas obedece, fundamentalmente, á intenção de facilitar a produção e a interpretação de todos os textos que circulam em um determinado ambiente social. Vamos aqui apresentar uma proposta de KAUFMAN & RODRIGUEZ (1995), por ser uma classificação simples e coerente que vai permitir ao professor operar com os textos no ambiente escolar. Levou-se em consideração os gêneros escritos, de uso freqüente na sociedade, e que devem adentrar a escola devido à importância que têm para melhorar a competência comunicativa dos alunos.

Público-Alvo: Professores de Língua Portuguesa Ensino Fundamental e Ensino Médio
Ou alunos do Ensino Médio
Obs.: O professor pode adaptar para alunos do 6º ao 9º ano ao diminuir a diversidade de gêneros apresentados aqui.
Tempo Previsto: 4 h/a

1º PASSO: Levar revistas e jornais e pedir aos participantes que recortem um texto e colar em um papel duplex.

Em seguida perguntar: Que texto é esse? Se o participante responder: - Notícia! Você indaga: - Por que é uma notícia? E assim sucessivamente. Fixar no quadro um a um os textos pesquisados e escreve-se com giz o que o participante achou que seja o texto. Depois de todos apresentarem o instrutor pergunta: - Podemos agrupá-los? E os professores são convidados a fazerem os grupos de textos. – Por que estão agrupados assim? Deixa este material no quadro e passa para o segundo momento. Importante salientar que não existe erro/ acerto neste momento. Ele serve para explosão de idéias, investigar o conhecimento prévio e despertar o interesse dos participantes.

2º PASSO: Roda de Conversa para perceber o que os participantes sabem sobre o texto, o que são gêneros textuais e por que trabalhar com gêneros textuais.

Conforme material impresso do Programa Escrevendo o Futuro (2008), gênero significa “família, grupo”, podemos dizer que são família, grupos de textos, orais ou escritos, que têm origens próximas e são ligados entre si por pertencerem a uma mesma área de conhecimento e ocorrerem em situações de comunicação semelhantes.

Por exemplo, jornalísticos (notícia, reportagem, editorial, etc.), jurídicos (leis, contratos, estatuto, etc), literários ( romance, poema, conto, etc.) e assim por diante.
Podemos dizer que seu número é infinito, pois cada uma dessas formas de linguagem decorre das diversas e diferentes situações de comunicação (ou situações de produção de linguagem) que vivemos no cotidiano, sejam elas informais ou formais.
Muito dos gêneros que utilizamos são aprendidos informalmente nas relações sociais mais próximas. Outros, porém, exigem ensino sistematizado para serem aprendido. Alerta Bakhtin(2003), que “não se deve, de modo algum, minimizar a extrema heterogeneidade dos gêneros discursivos e a dificuldade daí advinda de definir a natureza geral do enunciado”. Segundo Bakhtin é importância atentar para a diferença
essencial entre os gêneros discursivos primários (simples) – determinados tipos de diálogo oral – de salão íntimo, de círculos, familiar-cotidiano, sociopolítico, filosófico, etc.), e escritos - carta privada, etc. e os secundários (complexos) – romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos, etc. – surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito) – artístico, científico, sóciopolítico, etc.
Logo, a escola é responsável pelo ensino sistematizado de gêneros mais formais, isto é, secundários.
Este momento pode ser fechado com uma exposição dialogada usando recursos multimídias: datashow, retroprojetor, vídeo, etc.

3º PASSO: Espalhar as palavras abaixo em tarjetas de duas cores diferentes (o grupo e os gêneros do grupo) separando um a um conforme esta classificação sugerida KAUFMAN & RODRIGUEZ (1995):

1. LITERÁRIOS: CONTO/NOVELA/OBRA TEATRAL/POEMA/ MEMÓRIA
2.JORNALÍSTICOS: ARTIGO DE OPINIÃO/ NOTÍCIA/REPORTAGEM/ENTREVISTA
3.INFORMAÇÃO CIENTÍFICA: DEFINIÇÃO/ NOTA DE ENCICLOPÉDIA / RELATO DE EXPERIMENTO CIENTÍFICO/ MONOGRAFIA/ BIOGRAFIA/ RELATO HISTÓRICO
4.INSTRUCIONAIS: RECEITA / INSTRUTIVO
5.EPISTOLARES: CARTA / SOLICITAÇÃO
6.HUMORÍSTICOS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS/ PIADA
7.PUBLICITÁRIOS: AVISO / FOLHETO / CARTAZ

Para cada gênero o facilitador pesquisa com antecedência em diferentes fontes, internet, revista, jornais, etc, um exemplo de cada e fixa no papel duplex. Já para o professor-participante sugerimos que levem seus alunos para o laboratório de informática para pesquisarem e busquem também em outras fontes, tais como livros, revistas, jornais, enciclopédias, etc.

4º PASSO: Pedir aos participantes que peguem uma tarjeta ou um texto e em seguida cada participante vai procurar seu par, por exemplo, o texto piada com o seu respectivo nome, o cartaz com a palavra cartaz, e assim sucessivamente. É como um quebra cabeça! Quem pegou a tarjeta com a palavra “literários”, por exemplo, irá perceber na interação que sua família é a do conto, novela, etc. Por que são literários? O facilitador vai sempre indagando, ouvindo os participantes e acrescentando. A cada um que vai colocando seu texto no painel, deve-se perguntar: por que um poema é um poema? Por que um conto é um conto? Qual a diferença entre um conto e uma novela? Por que estão no mesmo grupo? Por que são literários? Não há a necessidade de definir um a um e caracteriza-los, porque este é um momento de motivação para adentrar a cada um destes gêneros subseqüentes, ou neste caso despertar o professor para estudar e pesquisar as características específicas de cada grupo de gêneros e cada gênero particularmente.

5º PASSO: Características dos Gêneros:

Sugerimos que estas características específicas de cada gênero sejam revistas na forma de um jogo didático. Divide-se a turma em dois grupos ou quatro e conforme acerta o gênero após a leitura das respectivas características (pelo facilitador) ganha um ponto. Ganha o jogo que acertar mais gêneros.

1.JORNALÍSTICO: Denominados assim em função do seu portador (jornais, periódicos, revistas), mostram um claro predomínio da função informativa da linguagem: trazem os fatos mais relevantes no momento em que acontecem. São agrupados em diferentes seções.

1.1. Entrevista: Conversacional. Informa sobre determinado tema. Recorre ao testemunho de alguém;
1.2. Artigo de Opinião: Contém comentários, avaliações, expectativas sobre um tema da atualidade. Ponto de vista;
1.3. Reportagem: Informação. Transmite detalhes sobre acontecimentos, objetos ou pessoas. Partes: manchete, introdução e desenvolvimento;
1.4. Notícia: é redigida em 3ª pessoa. Objetividade e veridicidade. Somente apresenta os dados;

2.LITERÁRIO: Privilegiam a mensagem pela própria mensagem. Interesse primordial com os recursos estéticos. Joga-se com os recursos lingüísticos. Exigem que o leitor compartilhe do jogo da imaginação para captar o sentido de coisas não ditas, de ações inexplicáveis, de sentimentos não expressos.

2.1. Conto: É um relato em prosa de fatos fictícios. Consta de vários momentos: equilíbrio inicial, uma força intervém, conflito, resolução e recuperação do equilíbrio;
2.2. Novela: É semelhante ao conto, mas tem mais capítulos, mais complicações, passagens mais extensas com descrições e diálogos;
2.3. Poema: Privilegiam a mensagem pela mensagem. Neles, interessa primordialmente como se combinam de acordo com os padrões estéticos, os diferentes elementos da língua, para dar uma impressão de beleza. Função Emotiva. Musicalidade. Geralmente em verso. Agrupamento em estrofe. Rima e verso;
2.4. Obra teatral: Vai tecendo diferentes histórias, diversos conflitos, interação lingüística das personagens. Pode ser monólogo. Elas são construídas para serem representadas. São organizadas por atos, cenas.

3.HUMORÍSTICO: Têm como intenção primordial provocar o riso mediante recursos lingüísticos e/ou icnográficos que alteram ou quebram a ordem natural dos fatos ou acontecimentos, ou que deformam as características das personagens.

3.1. História em Quadrinho: Trama narrativa com base icônica. Combina a imagem plana com o texto escrito. Humor. Cômica. Busca a participação ativa do leitor por via emocional, assistemática, anedótica, concreta.
3.2. Piada: Tem como intenção primordial, provocar o riso mediante recursos lingüísticos e/ou iconográficos: zombaria, ironia, a sátira, caricatura, charge, etc.

4.INSTRUCIONAL: Dão orientações precisas para a realização das mais diversas atividades, como jogar, preparar uma comida, cuidar de plantas ou animais domésticos, usar uma aparelho eletrônico, consertar um carro, etc.

4.1. Instruções: Dão orientações precisas para a realização das mais diversas atividades, tais como jogar, preparar uma comida, usar um aparelho doméstico;
4.2. Receita: Contém lista de elementos a serem utilizados, o modo de fazer, etc. Verbos no imperativo.

5.PUBLICITÁRIO: Estes textos estão estreitamente relacionados com as expectativas e as preocupações da comunidade, são os indicadores típicos da sociedade de consumo. Procura transformar aquilo que oferece em objeto de desejo.

5.1. Anúncio: Aparece em jornais , revistas, cartazes, folhetos de publicidade, etc. Frequentemente conjuga o verbal com o icônico em uma relação de complementariedade que amplia o significado deste tipo de texto.
5.2. Cartaz: Objetiva criar no receptor a necessidade de adquirir um produto, visitar um lugar, divulgar um evento: festa, reunião, etc. Normalmente deparamos com ele nas ruas, casas comerciais, etc. Textos breves sobre cartolinas, em papéis de grandes medidas.
5.3. Folheto: Textos breves para promover um lugar, um produto, uma atividade. Relevância nas sociedades de consumo. Função apelativa. Circula de mão em mão. Tem no tríptico seu formato mais freqüente.

6. EPISTOLARES: Procuram estabelecer uma comunicação por escrito com um destinatário ausente, identificado no texto através do cabeçalho.

6.1. A carta: Familiar. O autor conta a um parente ou a um amigo eventos particulares de sua vida. Estrutura: cabeçalho, dados do destinatário, corpo e a despedida.
6.2. A solicitação: É dirigida a um receptor que tem autoridade para outorgar algo que é valioso pelo emissor: um emprego, uma vaga em uma escola, etc. Linguagem formal.

7. INFORMAÇÃO CIENTÍFICA: Esta categoria inclui textos cujos conteúdos provêm do campo das ciências em geral. O vocábulo é preciso.

7.1. A definição: Incluída no dicionário, seu portador mais qualificado. Apresenta os traços essenciais daqueles a que se referem. Contém também informações complementares.
7.2. A Nota de Enciclopédia: Apresenta, como a definição, um tema-base e uma expansão de trama descritiva; porém, diferencia-se da definição pela organização e pela amplitude desta expansão.
7.3. O Relato de Experimentos: Contém a descrição detalhada de um projeto que consiste em manipular o ambiente para obter uma nova informação, ou seja, são textos que descrevem experimentos.
7.4. A monografia: Este tipo de texto privilegia a análise e a crítica; a informação sobre um determinado tema é recolhida em diferentes fontes. São realizados com base em consultas bibliográficas, dados, testemunhos, etc.
7.5. Biografia: é uma narração feita por alguém acerca da vida de outra(s) pessoa(s).

6º PASSO: Avaliação

Os participantes voltam a observar os textos que foram pesquisados e estão no quadro e verificam se classificaram corretamente seu gênero, caso não esteja concerta-se e vai organizando o painel, e isto vai acontecendo de forma coletiva. Os gêneros que não foram vistos separa-se e no final propõem que pesquisem na internet ou outros suportes estes gêneros desconhecidos.
Após ter vivido a oficina sugerida acima sobre tipologia textual, espera-se que os participantes estejam mais motivados e preparados para conhecerem e ampliarem seus conhecimentos sobre os gêneros específicos, conforme o currículo da escola e conteúdo programático de cada série.

Referencias Bibliográficas:

BAKHTIN, Michail Os Gêneros do Discurso. In: BAKHTIN, M Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306

KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUEZ, Maria Elena. Escola, Leitura e Produção de Textos. Artes Médicas, Porto Alegre, 1995.

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